Por Silvana de Oliveira – Perita Judicial, Grafotécnica, Especialista em Provas Digitais e Investigação Forense
Caso Foi na China: Reconhecimento Facial vs. Maquiagem e Identidade no Aeroporto de Xangai
Em um episódio recente ocorrido no aeroporto de Xangai, na China, uma passageira enfrentou um problema curioso — e constrangedor. No momento do embarque, o sistema de reconhecimento facial não conseguiu confirmar sua identidade. O motivo? O excesso de maquiagem1 havia alterado tanto sua aparência que o sistema não a reconheceu como sendo a mesma pessoa da foto em seu passaporte.
O incidente foi registrado em vídeo e viralizou nas redes sociais. Nele, a mulher aparece sendo repreendida por um funcionário, que a orienta a “limpar tudo2 até parecer com a foto do seu passaporte”. A cena gerou debate público sobre liberdade individual, tecnologia e identidade.
Fonte: https://www.instagram.com/reel/DJFB33FOBDg/?utm_source=ig_web_copy_link
O que esse caso revela?
1. Limites da tecnologia de reconhecimento facial
Sistemas de biometria facial são treinados com imagens de rostos naturais — geralmente neutros, sem maquiagem intensa ou acessórios. Maquiagens pesadas podem alterar:
- O contorno facial,
- A tonalidade da pele,
- O formato aparente dos olhos, lábios e sobrancelhas.
O sistema, ao encontrar divergências com a imagem oficial (do passaporte, por exemplo), pode simplesmente recusar a autenticação — como se fosse outra pessoa.
2. Questões de privacidade e constrangimento
O vídeo mostra mais do que um problema técnico: há uma abordagem humilhante e invasiva por parte do funcionário, sugerindo que a escolha estética da mulher era “um pedido por problemas”. A fala revela um julgamento moral embutido em uma situação que deveria ser técnica e objetiva.
Identidade visual x Identidade legal
Em tempos em que cada vez mais se discute a liberdade de expressão e de gênero, o caso levanta uma questão delicada: até que ponto a aparência deve seguir estritamente a imagem documental?
A realidade é que muitas pessoas mudam significativamente ao longo dos anos — não apenas com maquiagem, mas com procedimentos estéticos, cortes de cabelo ou mesmo transições de gênero. A tecnologia atual precisa evoluir para reconhecer a identidade para além de uma fotografia estática.
Este caso, ainda que aparentemente trivial, pode servir como alerta para viajantes e também para profissionais do Direito, da tecnologia e da perícia judicial:
- Para o passageiro: é importante manter uma foto atual e fiel no passaporte e, se possível, evitar maquiagens exageradas em aeroportos que utilizam biometria facial.
- Para os sistemas de segurança: é urgente revisar os algoritmos de reconhecimento facial para maior tolerância a variações não fraudulentas de aparência.
- Para os profissionais forenses e peritos: este é um exemplo concreto de como a imagem facial pode ser questionada em contextos judiciais, inclusive em investigações ou perícias grafotécnicas com foto, vídeo e provas digitais.
O “caso da maquiagem” em Xangai é mais do que uma curiosidade: ele nos faz refletir sobre como tecnologias supostamente neutras podem falhar diante da complexidade humana, e como devemos equilibrar segurança, privacidade e respeito individual.
Fontes:
- NDTV News Desk relata que a passageira foi constrangida e instruída a remover a maquiagem considerada pesada (“bridal-level”) para que o sistema facial a reconhecesse, com a frase: “Wipe everything off until you look like your passport photo… You are asking for trouble.” New York Post relata que a passageira foi constrangida e instruída a remover a maquiagem considerada pesada (“bridal-level”) para que o sistema facial a reconhecesse, com a frase: “Wipe everything off until you look like your passport photo… You are asking for trouble.” https://www.ndtv.com/world-news/wipe-off-your-make-up-woman-fails-facial-recognition-at-china-airport-8534829?utm_source=chatgpt.com ↩︎
- Times of India descreve o uso de maquiagem “bridal-level” que impedia a identificação, enfatizando o desafio desse tipo de aparência para sistemas biométricos https://news.seehua.com/post/1318816?utm_source=chatgpt.com. ↩︎
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