Proteção e Integridade: A Necessidade dos EPIs na Perícia Digital e na Preservação das Provas

Por Silvana de Oliveira

A perícia digital é uma atividade técnica essencial para a obtenção de provas em investigações judiciais e extrajudiciais. O manuseio e a análise de dispositivos eletrônicos exigem cuidados rigorosos para evitar danos às evidências e garantir a confiabilidade das informações. Nesse contexto, o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) se torna fundamental para proteger tanto o perito quanto a integridade dos dispositivos e dados envolvidos. Além dos aspectos técnicos, há uma base legal que reforça a necessidade de sua utilização.

O que são EPIs e sua Importância na Perícia Digital?

Os EPIs são dispositivos ou vestimentas destinadas à proteção do profissional contra riscos físicos, químicos, biológicos e eletrostáticos. No contexto da perícia digital, esses equipamentos desempenham um papel crucial para evitar danos às provas digitais, além de proteger o perito de substâncias tóxicas e de descargas elétricas que podem ocorrer no manuseio de equipamentos eletrônicos.

Os principais riscos no processamento de provas digitais incluem:

  • Danos por eletricidade estática: descargas eletrostáticas podem corromper ou destruir dados armazenados.
  • Contaminação biológica e química: suor, oleosidade das mãos ou poeira podem comprometer componentes eletrônicos sensíveis.
  • Exposição a substâncias tóxicas: componentes danificados podem liberar gases tóxicos ou substâncias nocivas à saúde.

Embasamento Legal para o Uso de EPIs na Perícia Digital

A necessidade do uso de EPIs está prevista em diversas normas e legislações que tratam da segurança do trabalho e da cadeia de custódia das provas digitais.

1. Normas de Segurança do Trabalho

No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as Normas Regulamentadoras (NRs) estabelecem diretrizes para a proteção do trabalhador em diversas atividades, incluindo aquelas que envolvem riscos elétricos, biológicos e químicos.

  • Norma Regulamentadora NR-6 (Portaria nº 3.214/78 do MTE)
    A NR-6 trata da obrigatoriedade do uso de EPIs e da responsabilidade do empregador em fornecer equipamentos adequados para proteção do trabalhador.
    • No caso da perícia digital, equipamentos como luvas antiestáticas, máscaras, óculos de proteção e pulseiras aterradas se enquadram nas exigências de segurança.
  • Norma Regulamentadora NR-10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade
    Essa norma estabelece medidas de segurança para trabalhadores que lidam com equipamentos eletrônicos, prevenindo riscos elétricos e garantindo a proteção contra descargas eletrostáticas.

2. Princípios da Cadeia de Custódia e Preservação da Prova

O uso de EPIs na perícia digital também está relacionado ao princípio da cadeia de custódia, previsto no Código de Processo Penal e na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

  • Código de Processo Penal – Artigo 158-B (Lei nº 13.964/2019 – Pacote Anticrime)
    O artigo 158-B define os procedimentos da cadeia de custódia, garantindo a integridade da prova desde sua coleta até sua análise e apresentação judicial. O uso de EPIs ajuda a evitar contaminações, violações e comprometimentos da prova digital.
  • Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709/2018 – LGPD)
    O artigo 46 da LGPD exige que medidas de segurança sejam adotadas para proteger dados pessoais, incluindo aqueles armazenados em dispositivos periciados. O uso de EPIs contribui para essa segurança, prevenindo acessos indevidos e perdas de informações sensíveis.
  • Norma ABNT NBR ISO/IEC 27037:2013 – Diretrizes para Identificação, Coleta, Aquisição e Preservação de Evidências Digitais
    Essa norma internacional estabelece boas práticas para a preservação da prova digital, incluindo diretrizes para evitar a contaminação de evidências por falhas no manuseio. O uso de EPIs, como luvas e pulseiras antiestáticas, está alinhado com essas diretrizes.

EPIs Essenciais para a Perícia Digital

Com base nos riscos e nas normas mencionadas, alguns EPIs são indispensáveis para o processamento de provas digitais:

  1. Luvas Antiestáticas
  2. Pulseira Antiestática
  3. Máscaras de Proteção
  4. Óculos de Proteção
  5. Jaleco Antiestático
  6. Tapete e Bancada Antiestática

O uso de EPIs no processamento das provas digitais não é apenas uma medida de segurança, mas uma exigência legal e técnica. Além de proteger o perito contra riscos físicos, químicos e biológicos, esses equipamentos garantem a preservação das evidências digitais, assegurando sua integridade e validade em processos judiciais.

O embasamento legal para essa prática está presente nas Normas Regulamentadoras, no Código de Processo Penal, na LGPD e em normas internacionais de preservação de provas digitais. Portanto, investir na utilização correta de EPIs não apenas fortalece a credibilidade da perícia, mas também evita questionamentos quanto à validade das provas apresentadas.