Inteligência Artificial no Judiciário: Avanço ou Risco?

Por Silvana de Oliveira

A Resolução nº 332, de 21 de agosto de 2020, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), estabelece diretrizes e princípios para o uso da Inteligência Artificial (IA) no Poder Judiciário. Essa norma busca garantir que a implementação de tecnologias baseadas em IA respeite direitos fundamentais, assegure a transparência, evite vieses discriminatórios e preserve a segurança jurídica.

Principais Diretrizes da Resolução nº 332/2020

A regulamentação da IA no Judiciário está fundamentada nos seguintes princípios:

  1. Respeito aos Direitos Fundamentais
    • As soluções de IA devem ser utilizadas em conformidade com a Constituição Federal e tratados internacionais de direitos humanos.
  2. Transparência e Auditabilidade
    • Os sistemas de IA devem ser compreensíveis e auditáveis para evitar decisões automatizadas sem supervisão humana adequada.
  3. Segurança, Privacidade e Proteção de Dados
    • Os dados tratados por IA devem estar em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018), garantindo sigilo e anonimização quando necessário.
  4. Não Discriminação e Imparcialidade
    • Os algoritmos não podem promover discriminação ou reforçar vieses que possam comprometer a imparcialidade judicial.
  5. Supervisão Humana e Responsabilidade
    • A IA deve ser usada como um instrumento auxiliar, sem substituir o papel dos magistrados e servidores na tomada de decisões.
  6. Eficiência e Qualidade na Prestação Jurisdicional
    • As ferramentas de IA devem ser utilizadas para aprimorar a gestão processual, reduzir a morosidade judicial e garantir maior eficiência nos julgamentos.

Impactos do Uso da IA no Judiciário

O uso da Inteligência Artificial no Judiciário vem promovendo mudanças significativas, tais como:

  • Aceleração do andamento processual: Ferramentas como o Victor, utilizado no Supremo Tribunal Federal (STF), auxiliam na triagem processual e identificação de temas de repercussão geral.
  • Maior acessibilidade e automação de tarefas: IA pode ajudar na formatação de decisões, análise de documentos e na identificação de precedentes relevantes.
  • Redução de erros e inconsistências: O uso de modelos preditivos pode reduzir equívocos processuais e dar maior uniformidade às decisões.
  • Riscos e desafios: A automação excessiva pode gerar questionamentos sobre a confiabilidade das decisões, além de riscos de vazamento de dados sensíveis.

Cuidados na Implementação da IA no Judiciário

Para garantir que o uso da IA seja benéfico e seguro, alguns cuidados devem ser observados:

  • Supervisão contínua: A atuação humana deve ser mantida na interpretação e aplicação das decisões jurídicas.
  • Mitigação de vieses: A revisão constante dos algoritmos é necessária para evitar discriminação ou injustiças.
  • Capacitação dos operadores do direito: Juízes, advogados e servidores devem ser capacitados para compreender e fiscalizar o uso da IA.
  • Regras claras de responsabilidade: Deve haver normatização sobre a responsabilidade em caso de falhas ou decisões injustas causadas por IA.

A Resolução nº 332/2020 é um marco na regulamentação do uso de IA no Judiciário brasileiro, garantindo que a inovação tecnológica seja usada de forma ética, transparente e segura. Apesar dos avanços, é essencial que haja um acompanhamento rigoroso para evitar abusos e garantir que a IA funcione como um instrumento de apoio, sem comprometer a imparcialidade e os direitos fundamentais dos cidadãos.

RESOLUÇÃO nº 332 Inteligência Artificial (IA)