Por Silvana de Oliveira – Perita Judicial, Grafotécnica, Especialista em Provas Digitais e Investigação Forense
O que era para ser um simples almoço em família terminou em uma grave intoxicação alimentar. Quatro pessoas de uma mesma família foram internadas após consumir folhas que acreditavam ser couve, mas que, na verdade, pertenciam a uma espécie venenosa conhecida como “falsa couve” ou “fumo-bravo”.
Um engano perigoso
A família havia se mudado recentemente para uma chácara que já possuía uma horta formada. Entre as plantas, havia um pé de folhas verdes muito parecidas com a tradicional couve-manteiga, alimento comum na mesa dos brasileiros. Sem desconfiar de nada, os moradores colheram as folhas e prepararam um refogado.
Logo após a refeição, os quatro começaram a passar mal — apresentando sintomas de intoxicação severa. O SAMU e o Corpo de Bombeiros1 foram acionados e prestaram os primeiros socorros. Duas vítimas precisaram ser entubadas ainda no local, e três delas foram encaminhadas em estado crítico para a UTI da Santa Casa de Patrocínio, em Minas Gerais.
Segundo os médicos, o quadro era grave, mas estável. Apenas o homem de 67 anos, o caso mais leve, recebeu alta após a estabilização.
A “couve falsa” ou “charuteira”
A planta em questão é conhecida em algumas regiões como charuteira ou fumo-bravo, e é extremamente tóxica. Sua aparência é muito semelhante à couve verdadeira, o que aumenta o risco de confusão — especialmente em hortas domésticas ou áreas rurais onde o plantio ocorre de forma espontânea.
Entre as diferenças sutis, especialistas apontam que:
- As folhas da falsa couve são mais lisas, enquanto a verdadeira possui nervuras e textura mais rugosa.
- O espaçamento entre as nervuras é maior na planta tóxica.
- Apesar disso, o caule e o formato geral são quase idênticos, o que engana até mesmo pessoas acostumadas com o cultivo.
A substância tóxica presente nessa planta afeta o sistema nervoso e o coração, podendo causar sérios danos e até levar à morte. Curiosamente, nem os animais se alimentam dela, instintivamente evitando o consumo.
Sem antídoto conhecido
De acordo com os profissionais de saúde que atenderam a ocorrência, não há antídoto específico para o veneno da falsa couve. O tratamento depende da resposta natural do corpo da vítima à intoxicação, com suporte médico intensivo e controle dos sintomas.
Um dos socorristas ressaltou:
“Foi uma planta que nasceu naturalmente na região, e as pessoas confundiram com couve. Infelizmente, trata-se de uma espécie extremamente tóxica, e o único caminho é aguardar a reação do corpo.”
Casos semelhantes e o alerta necessário
Episódios como esse lembram o cuidado que devemos ter com plantas de origem desconhecida, mesmo quando se parecem com alimentos comuns. Em diversas regiões do Brasil, há espécies com alto grau de toxicidade que podem ser confundidas com variedades comestíveis.
Um exemplo conhecido é o da maniçoba, prato típico do Pará, feito a partir das folhas da mandioca brava. Essa planta também é venenosa, e por isso suas folhas precisam ser cozidas por três dias consecutivos para eliminar o ácido cianídrico antes do consumo. O prato, quando preparado de forma correta, é uma iguaria. Quando não, é fatal.
Orientações para evitar acidentes
Para evitar intoxicações como essa, especialistas recomendam:
- Nunca consumir plantas sem certeza de sua identificação.
- Consultar agrônomos ou extensionistas rurais quando encontrar espécies desconhecidas na horta.
- Evitar o consumo de folhas “nativas” que surgem espontaneamente, mesmo que se pareçam com alimentos conhecidos.
- Manter rótulos e registros de mudas e sementes adquiridas, garantindo a procedência do cultivo.
- Educar familiares e vizinhos sobre os riscos de plantas tóxicas semelhantes a espécies alimentícias.
O caso da família de Patrocínio serve como alerta para todos que cultivam ou consomem alimentos de hortas caseiras. A natureza é generosa, mas também requer conhecimento e cautela. A falsa couve é um lembrete de que nem tudo que se parece com alimento é seguro — e que a atenção aos detalhes pode literalmente salvar vidas.
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