Entre o Alerta e o Colapso: Desabamento em Jaboatão Reforça Falhas na Gestão de Risco Estrutural

Por Silvana de Oliveira – Perita Judicial, Grafotécnica, Especialista em Provas Digitais e Investigação Forense

Na manhã desta terça-feira (06), um prédio residencial desabou no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE), Região Metropolitana do Recife. O edifício já havia sido interditado pela Defesa Civil no domingo (04), após uma vistoria técnica identificar risco estrutural grave. Na segunda-feira (05), moradores ainda estavam no local tentando retirar móveis e pertences pessoais. A estrutura veio abaixo antes que qualquer medida de contenção fosse executada.

Interditado, mas ainda ocupado

Mesmo com a interdição formalizada, o prédio não recebeu nenhuma intervenção emergencial porque aguardava a finalização de um laudo técnico. Situações assim exigem ação rápida e coordenada — e mostram o quanto o intervalo entre o alerta técnico e o colapso pode ser fatal.

Infelizmente, a retirada de pertences, por mais compreensível que seja do ponto de vista emocional e financeiro, precisa ser rigorosamente controlada quando há risco de desabamento. O trânsito de pessoas e o peso de móveis podem agravar ainda mais a instabilidade da estrutura.

Um alerta sobre reformas irregulares

Casos como esse trazem à tona uma realidade preocupante: reformas realizadas sem critério técnico. Em muitos condomínios, intervenções feitas por moradores — como a remoção de paredes, instalação de pisos pesados ou alterações na hidráulica — são executadas sem projeto, sem ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) e, pior, sem fiscalização adequada por parte da administração condominial.

Alterações aparentemente simples, como abrir uma parede para “aumentar o ambiente”, podem comprometer elementos estruturais cruciais, especialmente em prédios mais antigos. A consequência? Fissuras, recalques, sobrecarga e risco iminente de colapso.

O síndico não é apenas um gestor administrativo: ele tem responsabilidade civil e criminal sobre a segurança do edifício. É dever do síndico:

  • Exigir projetos e ART de reformas estruturais;
  • Comunicar qualquer anomalia à Defesa Civil ou profissionais qualificados;
  • Providenciar vistorias e laudos periódicos;
  • Impedir intervenções que possam colocar em risco a integridade da edificação.

Ignorar essas responsabilidades pode configurar omissão dolosa, o que, em situações como essa, pode levar à responsabilização em caso de acidentes com vítimas.

Equipes de resgate trabalham no local para verificar se há feridos ou desaparecidos. O prédio, que estava interditado há apenas dois dias, não teve tempo de passar por nenhuma obra de contenção. O laudo técnico que estava em elaboração agora será peça-chave em uma possível investigação judicial.

  • Data do desabamento: Terça-feira, 06 de maio
  • Local: Bairro de Piedade, Jaboatão dos Guararapes (PE)
  • Situação anterior: Interditado pela Defesa Civil em 04/05
  • Causa presumida: Risco estrutural agravado por deterioração e possível sobrecarga
  • Alerta: Reforma sem responsabilidade técnica pode causar tragédias
  • Síndico: Pode ser responsabilizado por omissão na fiscalização

Este episódio deve servir de alerta não só para moradores, mas também para síndicos, engenheiros e peritos: não há espaço para improviso quando se trata de estrutura predial. Toda reforma deve ser acompanhada de laudos, projetos e responsabilidade técnica. A vida está — literalmente — em jogo.